terça-feira, agosto 28, 2012

Assustados

Praça das Flores
Assustados e incrédulos seguimos
o fio da estrela ou o trilho da fera
e por entre corais, algas e limos
cada um corre em busca de quem era.

Ninguém liga à ideia do que o espera
ao fim da aventura em que insistimos
e breve o outono em vez da primavera
se instala em nossos íntimos destinos.

Mas há sempre vereda para a fuga,
há sempre como iludir o desgosto
que, dia a dia, ruga atrás de ruga,
lento e cruel nos desfigura o rosto.

terça-feira, agosto 21, 2012

Quando parece

Estação do Rossio
Quando parece que só resta o medo
e tudo em volta é sombra e incerteza
como se não houvesse mais beleza
no acto de viver e um segredo
forçasse as coisas simples e directas
a ferir-nos a alma como setas

há que buscar no mais fundo de nós
o ânimo que em todos está escondido
e só ganha motivo e faz sentido
quando parece que nos falta a voz.

terça-feira, agosto 14, 2012

Deixa-me adormecer


Alcantarilha

Deixa-me adormecer à sombra da lembrança
de quando era criança
e o mundo não ia além da nossa aldeia.
Não sabíamos nada e sabíamos tudo
porque de tudo tínhamos a ideia
de ser tão perto como o mar que se ouvia
feito um leão cansado que rugia.

Deixa-me adormecer no ombro da distância
e voltar breve à infância
ao tempo em que fomos donos do mundo
porque nas aparentes mãos vazias
guardávamos intacto o segredo profundo
o mistério insondável e sem fundo
de beijarmos as noites e os dias.

Deixa-me adormecer e não cuidar
de saber se hei-de vir a acordar.  

quarta-feira, agosto 08, 2012

A busca

Das Portas do Sol

A vida é a busca de um sentido
para o que não tem sentido
e nesta busca permanente
consome a gente
cansaços e energias
ao correr dos dias.

Entretanto, a dúvida persiste
sobre se tudo o que existe
é real ou aparente
ou igual ou diferente
e sopra até à alma mais serena
que nada disto vale a pena.

quarta-feira, agosto 01, 2012

Tema

Rio Arade, em Silves

Parece altura de voltar ao tema
recorrente do meu poema
e que conheces tão bem:
o tema do teu olhar
roubado ao verde-azul do mar
e igual ao de mais ninguém.

É que, por muito velozes
que possam ser estes dias,
importa escutar as vozes
fugazes porém serenas
apelando às alegrias
que há nas horas mais pequenas.