segunda-feira, janeiro 10, 2005

Figuras

Espectrais, tinham o ar de quem saíra,
há momentos, de um quadro, uma gravura.
Fitando-as, fiquei certo: jamais vira
gente assim, tão perdida na lonjura.

Por temer que a visão fosse mentira,
percorri, num olhar, cada figura:
eram mesmo reais, como intuira
pelos traços da antiga formosura.

Mas eis que, em lhes tocando, recuaram,
como se a minha mão impura fosse
perturbar-lhes a paz donde chegaram.

Só então percebi que o tempo as trouxe
para a simples lição que me ensinaram:
quem quis o impossível condenou-se.

("Destino do Mar", 1991)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Um soneto exemplar. Parabéns!

M. Carlos

9:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Belíssimo soneto. Voltarei sempre.

Alda Laje
Setúbal

12:30 da tarde  

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