Figuras
Espectrais, tinham o ar de quem saíra,
há momentos, de um quadro, uma gravura.
Fitando-as, fiquei certo: jamais vira
gente assim, tão perdida na lonjura.
Por temer que a visão fosse mentira,
percorri, num olhar, cada figura:
eram mesmo reais, como intuira
pelos traços da antiga formosura.
Mas eis que, em lhes tocando, recuaram,
como se a minha mão impura fosse
perturbar-lhes a paz donde chegaram.
Só então percebi que o tempo as trouxe
para a simples lição que me ensinaram:
quem quis o impossível condenou-se.
("Destino do Mar", 1991)
há momentos, de um quadro, uma gravura.
Fitando-as, fiquei certo: jamais vira
gente assim, tão perdida na lonjura.
Por temer que a visão fosse mentira,
percorri, num olhar, cada figura:
eram mesmo reais, como intuira
pelos traços da antiga formosura.
Mas eis que, em lhes tocando, recuaram,
como se a minha mão impura fosse
perturbar-lhes a paz donde chegaram.
Só então percebi que o tempo as trouxe
para a simples lição que me ensinaram:
quem quis o impossível condenou-se.
("Destino do Mar", 1991)
2 Comments:
Um soneto exemplar. Parabéns!
M. Carlos
Belíssimo soneto. Voltarei sempre.
Alda Laje
Setúbal
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