A cidade
A cidade passeia no rosto de um homem,
põe o seu corpo nu a vestir-lhe a pele,
desenha-lhe um rio, mas os barcos não correm
na água que nasce do silêncio dele.
Um homem estrangula o frio da cidade,
o seu corpo a possui, o seu corpo incendeia.
Vai calado e só, numa fúria que há-de
espraiar-se apenas no oiro da areia.
Cidade de portas abertas ao medo,
um homem percorre o seu corpo e pergunta
como o tempo achou lugar para ter
tanto tempo muda tanta gente junta.
("Voz Suspensa", 1970)
põe o seu corpo nu a vestir-lhe a pele,
desenha-lhe um rio, mas os barcos não correm
na água que nasce do silêncio dele.
Um homem estrangula o frio da cidade,
o seu corpo a possui, o seu corpo incendeia.
Vai calado e só, numa fúria que há-de
espraiar-se apenas no oiro da areia.
Cidade de portas abertas ao medo,
um homem percorre o seu corpo e pergunta
como o tempo achou lugar para ter
tanto tempo muda tanta gente junta.
("Voz Suspensa", 1970)
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