A cidade
Largo do Marquês do Lavradio, às Cruzes da Sé
A cidade passeia no rosto de um homem,
põe seu corpo nu a tocar-lhe a pele,
desenha-lhe um rio, mas os barcos não correm
na água que nasce do silêncio dele.
Um homem estrangula o frio da cidade,
seu corpo a possui, seu corpo incendeia,
vai calado e só, numa fúria que há-de
espraiar-se por fim no oiro da areia.
Cidade de portas abertas ao medo,
um homem percorre o seu corpo e pergunta
como o tempo achou lugar para ter
tanto tempo muda tanta gente junta.
põe seu corpo nu a tocar-lhe a pele,
desenha-lhe um rio, mas os barcos não correm
na água que nasce do silêncio dele.
Um homem estrangula o frio da cidade,
seu corpo a possui, seu corpo incendeia,
vai calado e só, numa fúria que há-de
espraiar-se por fim no oiro da areia.
Cidade de portas abertas ao medo,
um homem percorre o seu corpo e pergunta
como o tempo achou lugar para ter
tanto tempo muda tanta gente junta.
("Voz Suspensa", 1970, rev.)
10 Comments:
Muito bom, este poema do tempo da 'cidade cercada.
Abraço'
Um tempo a (não) esquecer, caro João!
Outro abraço.
Sempre bom passar por aqui ( nos poucos segundos que me restam livres ! ) e saborear poesia.
Isso é capaz de ser só um problema de programação, caro Tibério... :)
Aquele abraço.
Tão bonito...
Olá, cara Magnólia!
Outro poema de se "tirar o chapéu".
A última quadra, então, está soberba para encerrar o poema com tanta substância e tanta verdade.
O homem vai-se juntando, cada vez, para o silêncio colectivo e, quando fala, é para se (auto)ouvir.
Cumprimentos.
Cumprimentos retribuídos, caro Agridoce.
O gosto de sempre em ler as suas palavras
:)))
E é meu gosto agradecer-lhe as visitas, cara Mdsol!
:)))
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