sexta-feira, junho 02, 2006

Os velhos











Acrílico sobre tela/Torquato da Luz, 2004

Os velhos camponeses de que fala Virgílio
semeavam e plantavam,
sabendo embora que não iriam colher.

Hoje sentam-se nos muros,
nos bancos de jardim, à soleira da porta,
desfiando contas de um rosário perdido.

Alguns falam da guerra onde estiveram,
tempo de angústia e sofrimento,
que entretanto se tornou saudade.

Ou, jogando às cartas,
tropeçam no deve e haver
do papel pardo das suas vidas.

Todos carregando o peso
de não saber porquê e para quê.

(2006)

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito bonito, embora amargo.

Uns "não iriam colher" porque a sua esperança de vida era reduzida e, tal como Catão retratou a vida rural, também pouco valiam.

Hoje a esperança de vida é maior e eles perguntam-se: para quê? Para a gastarem à espera no banco de jardim?

Bj,

8:34 da tarde  
Blogger Torquato da Luz said...

Outro bj, Fátima, e bom fim-de-semana!

8:57 da manhã  
Blogger Memória transparente said...

Um acrílico que transmite em cores a esperança que o poema liberta.

Beijinhos.

11:36 da manhã  
Blogger Torquato da Luz said...

Beijinhos também, Maria do Céu. "A direcção do voo" continua excelente, parabéns!

2:28 da tarde  

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