domingo, novembro 04, 2007

Os zombies de Lisboa
















Foto TL

Os zombies de Lisboa deambulam no metro,
apelando a quem os possa ajudar,
ou percorrem as ruas com seu passo incerto
e falta de jeito para o acertar.

Os zombies de Lisboa sentam-se à porta
das igrejas da Baixa à hora da missa,
exibindo mazelas como quem mostra
o pobre ganha-pão de uma vida submissa.

Os zombies de Lisboa pedem uma esmola,
mesmo que pequena, por amor de Deus.
Nunca foram meninos, fugiram da escola
e há muito que já não sabem dos seus.

Mas, tendo uma alma como toda a gente,
os zombies de Lisboa hão-de perguntar
por que raio lhes coube destino diferente
dos mais que nasceram no mesmo lugar.

E, embora a procurem, não acham resposta,
a não ser na sina ou no fado inimigo,
para o facto de a vida lhes ter sido imposta
como se fora um longo e triste castigo.

14 Comments:

Blogger addiragram said...

Apetece-me dizer que estes se zombies perpetuam porque os outros Zombies(que somos todos nós) continuam socialmente cegos e insensíveis aos problemas mais dramáticos que estão à sua volta. Um simplificação talvez, mas apetece-me...
O poeta canta tudo o que lhe dói, na
esperança de afugentar este "adormecimento" geral.

10:31 da manhã  
Blogger Torquato da Luz said...

De acordo, cara Addiragram.

5:46 da tarde  
Blogger Fatyly said...

Vou chocar com o que vou dizer, mas é a mais pura verdade: Conheci muitos "zombies" de Lisboa e deixa-me dizer-te que além de não quererem ajuda dizem que ganham muito mais sem fazer nada, para não falar das falsas "moléstias" que apresentam. Vi a pintarem-se, vi o lado do reverso da moeda e foi muito triste "um teatro encenado".
Dar a cana e ensinar a pescar é e será sempre a melhor via.

Mas também há "zombies" reais e para estes gostei do teu poema.

Beijos

6:53 da tarde  
Blogger Torquato da Luz said...

Não chocaste nada, porque é mesmo verdade, Fatyly.
Beijos também.

6:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Esta manhã, ouvi a Maria Filomena Mónica dizer, a propósito de Cesário Verde, que gosta de ler poesia para encontrar felicidade (não sei as palavras exactas, mas a ideia era esta). Eu também. E mesmo na tristeza, consigo encontrar felicidade. Aqui não. Só encontro revolta. Como é possível deixarmos que isto aconteça? O que podemos fazer para que não aconteça?
Boa semana, Torquato.
Os beijinhos de sempre

2:15 da tarde  
Blogger Torquato da Luz said...

Infelizmente, não tenho a resposta, Laura.
Boa semana e os beijinhos de sempre também.

5:42 da tarde  
Blogger myself said...

Já noutro tempo por aqui andei; voltei e continuo a encontrar aqui a qualidade poética que nem sempre é timbre da Internet.

6:46 da tarde  
Blogger Joana Roque Lino said...

Olá Torquato,
Este toca-me, especialmente! Ainda bem que escreve, ainda bem que escreve como o faz, para que quem quer possa olhar e ver o que lá está, porque, Torquato, está tudo lá. É por isso que gosto tanto da sua escrita. Está tudo (e está todo) lá! Um beijo

7:23 da tarde  
Blogger Torquato da Luz said...

Um abraço, caro Myself :), com votos de êxito para o novo blog.

7:26 da tarde  
Blogger Torquato da Luz said...

Outro beijo, cara Joana.

7:29 da tarde  
Blogger Ricardo António Alves said...

Magnífico!
Abraço.

10:04 da tarde  
Blogger Torquato da Luz said...

Outro abraço, meu caro Ricardo.

8:59 da manhã  
Blogger Sofia K. said...

Agora já posso dizer que gosto da sua poesia, com conhecimento de causa! Tenho vindo a ler alguns dos seus poemas...
Gostei deste pelo ritmo que se assemelha ao ritmo da própria vida dos 'zombies' de que fala. Há uma cadência, que acaba por corresponder também ao ritmo da observação da realidade por parte do sujeito. Só não gosto da palavra 'zombie', mas isso é uma questão de gosto! A verdade é que não caiu no hábito de lhes chamar vagabundos ou deambulantes - foi original! Gostei!

beijinhos
(continuarei a passar por aqui)

12:13 da tarde  
Blogger Torquato da Luz said...

Volte sempre, Sofia.
Obrigado e beijinhos também.

2:05 da tarde  

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