terça-feira, novembro 29, 2011

Sete anos

Cais do Sodré
Tudo começou assim, a 29 de Novembro de 2004:
As palavras sucumbem ao vazio
da própria pequenez.
Nenhum cais tem a forma do navio,
nenhum navio a forma das marés.

O tempo foge.

quinta-feira, novembro 24, 2011

O comboio errado

Santa Apolónia
Tomou na vida o comboio errado
e em vez de sair na primeira paragem
prosseguiu viagem
para nenhum lado.

Perdeu-se do passado que não teve
e do futuro que não tem,
mero episódio de novela breve
que não acaba bem.

E um fumo pesado e espesso
diz-lhe que não tem regresso.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Recado

Querida Lisboa
Toda a poesia é um recado
com destinatário
mais ou menos disfarçado.
Eu, desde que te vi,
dou-me ao ofício diário
de escrever para ti.

quinta-feira, novembro 17, 2011

A falta

Rua Marcos Portugal
Construímos a casa, alheios ao medo,
por entre a solidão e o arvoredo.
Uma janela dava para o mar.
Depois chegou a noite e o enredo
do escuro se instalou como em segredo
por todos os recantos do lugar.
Foi então que partiste e muito cedo
dei por falta de ti e do luar.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Prece

Calçada do Carmo
Peço o meu pão
e a liberdade de poder comê-lo
sem constrangimento.
E, se outra coisa peço, não
é mais que a tua mão no meu cabelo
quando me toma o desalento.

quinta-feira, novembro 10, 2011

Abandonados

Príncipe Real
Fomos todos abandonados
pelos antepassados
que nos deixaram sós
como se nós
fossemos feitos de algum metal
capaz de resistir
a tudo quanto, bem ou mal,
pudesse sobrevir.

Mas nós vivemos no vento,
frágeis folhas caídas
das árvores do momento,
e as nossas vidas
oscilam sobre um ténue fio
ligando as margens do rio.

E uma vez também nós antepassados,
alguém nos há-de acusar
de termos abandonado
quem nos foi dado amar.

segunda-feira, novembro 07, 2011

É agora

Poço do Borratém
Não é tarde nem cedo,
é agora.
Como quem de repente perde o medo
e desarvora.
Entre o sim e o não
vai o risco do fósforo, o instante
da decisão.
O resto é redundante.
O que importa é afrontar
as alamedas sonolentas
da noite perdida
e sem ligar
às aves agoirentas
insistir na corrida.