sábado, novembro 29, 2008

4 anos


Tudo começou assim, a 29 de Novembro de 2004:

As palavras sucumbem ao vazio
da própria pequenez.
Nenhum cais tem a forma do navio,
nenhum navio a forma das marés.

É tempo de continuar.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Saltar o muro


















Largo da Princesa, Restelo, Lisboa/Foto TL, 2008

Quando se quebra o encanto e não há nada
mais a fazer que suportar a dor,
quando a noite não traz a madrugada
e o mundo se acinzenta e perde a cor,
quando parece ser o fim da estrada
e qualquer coisa diz que a caminhada
poderia ter tido outro sabor,
é mais que tempo de saltar o muro
e retomar a busca do futuro.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Destino comum
















Palácio da Ajuda
Foto TL, 2008

Nosso destino comum
é a morte e mais nenhum.
Nada, seja o que for
e tão-pouco a poesia,
poderá algum dia
subtrair-nos à dor,
maior entre as demais,
de não sermos imortais.

Entretanto, o que interessa
é não ter pressa
e aproveitar a hora,
porque o tempo é fugaz:
não volta atrás
nem se demora.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Pescaria
















Barlavento/Foto TL, 2007

Pescador de águas límpidas, lancei
a minha rede e esperei.
Mas o peixe fugiu, foi mais sagaz
do que algum dia imaginei.
Agora só me resta ser capaz
de começar de novo a pescaria,
até um dia.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Abandono















Armação de Pêra/Foto TL, 2007

Abandonei na praia o que juntara
com grande esforço ao longo da jornada
e fiz-me ao mar sem cuidar de mais nada
que não fosse a ideia fixa e ignara

de te encontrar algures, empresa rara
mas nem por isso menos ansiada,
numa ilha qualquer despovoada
a que a barca dos sonhos te levara.

Mas, afinal, apenas encontrei
por entre as ondas altas a memória
de um ou outro navio que se perdera

e já na imensa praia, a que voltei,
ninguém sabia mais contar a história
de quem tu foras e eu ainda era.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Mudez










Senhora da Rocha/Foto TL, 2007

Quando por fim voltares, traz no olhar
a nesga de areal onde algum dia
te encontrei entre a espuma e a maresia,
passeando a surpresa de haver mar.

Traz também nos cabelos o luar
e deixa que o veneno da poesia
nos envenene aos dois em sintonia,
como exige o mistério do lugar.

Talvez assim eu possa finalmente
segredar-te as palavras que não soube
dizer-te no momento em que te vi

pela primeira vez e, de repente,
o mundo foi tão grande que não coube
na minha voz e logo emudeci.

segunda-feira, novembro 10, 2008

A casa















Rossio, Lisboa / Foto TL, 2008
Era uma casa pouco a pouco erguida
sobre caboucos fundos e seguros,
uma casa pensada para a vida
e feita com amor, livre de juros,

uma sólida casa construída
para os dias presentes e futuros
e pronta a resistir à investida
dos tempos mais adversos e mais duros.

Mas vieram o vento e a tempestade
e não deixaram mais do que os escombros
do que fora uma casa grande e forte

e agora só nos resta ter vontade
de começar de novo, metendo ombros
a outra casa, em desafio à morte.

quinta-feira, novembro 06, 2008

As mãos














Tenho para te dar as mãos vazias
e pouco mais, mas olha como são
as minhas mãos, que outrora foram frias
e hoje ardem ao calor da emoção
de sentir como espantam as sombrias
noites em que o negrume e a solidão
eram a manta com que te cobrias.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Festa














Praça dos Restauradores, Lisboa / Foto TL, 2008
Quem muito cuida muito sente
e sentir é sofrer.
Melhor será, portanto, ir sempre em frente
e seguir indiferente
ao que der e vier.
Nem permanente festa nem maçada,
a vida há-de ser jogada
entre uma e outra, sei lá.
Mas o mais sábio será
ter presente que a primeira,
sendo como é prazenteira,
é que dá.