quinta-feira, julho 31, 2008

Faz-de-conta
















Outra face de Lisboa / Foto TL
Não nos permitem mais que recolher
os ecos do silêncio que lançamos
à terra ou, por entre os ramos
do deve e haver,
a toda a hora inventamos
como razão de viver.

No entanto, só nos resta
teimar na aventura
desta constante procura,
em faz-de-conta que é festa.

segunda-feira, julho 28, 2008

Alma
















Pormenor de uma fachada na Rua do Jasmim, em Lisboa / Foto TL

Não estranharás a fúria com que te amo
nem o calor que ponho em to dizer:
eu descobri que, venha o que vier,
nada terá o nome que te chamo.

Não é só o teu corpo que reclamo
e percorro na busca do prazer:
é algo mais que estou certo de ser
o oposto de tudo o que desamo.

Pretendo ter de ti o que de mim
por inteiro te dei e te pertence
e nunca mais será de mais ninguém:

a alma, meu amor, a alma, sim,
invisível clarão que tudo vence
e nos faz chegar sempre mais além.

segunda-feira, julho 14, 2008

Mais férias

Até Agosto (se não for antes)!

sexta-feira, julho 11, 2008

O bote















Foto de Addiragram (Aguarelas de Turner), a cujo desafio respondi com este texto:

Não passa de um bote na margem do rio
pachorrento e sereno
sem ambições de ser navio
nem traumas de ser pequeno.
E, no entanto, preso e abandonado,
decerto à espera de nos ver voltar,
parece ter mais calado
que muito paquete no alto mar.
Ou não estivesse ancorado
à poesia do lugar.

terça-feira, julho 08, 2008

Solidão















Tejo lisboeta/Foto TL

Hei-de lembrar-te ainda, quando o vento
tiver varrido as folhas da memória
e nada mais couber na nossa história
de amor do que o direito ao esquecimento.

Hei-de lembrar-te ainda, quando a dor
das horas em que não estive contigo
tiver passado, exorcizando o perigo
de me render a outra dor maior.

Hei-de lembrar-te ainda, quando não
souber mais quem tu eras, solidão.

sexta-feira, julho 04, 2008

O comboio dos medos










Acrílico sobre tela
TL, 2008

O nocturno comboio dos medos
tem muitas carruagens, qual delas a mais temível,
e não pára em todas as estações.
De vez em quando, há passageiros que saltam,
exaustos, pelas janelas,
tentando livrar-se dos seus problemas,
que não raro apenas agravam.
Alguns, porque mais ágeis, levantam-se da queda
e correm campos fora, rumo a destino incerto.
Todos, porém, para sempre condenados
ao pesadelo da fuga de si mesmos.

Na carruagem da frente
viaja o medo do futuro, locomotiva
que arrasta todas as demais:
a do medo da dor, do medo da morte,
do medo do escuro e do sol que queima,
do medo do polícia e do ladrão.
Sendo que a maior delas é aquela
que carrega a nossa imaginação.

terça-feira, julho 01, 2008

Aguarela estival















Foto TL
Tem o cheiro do Verão quando amanhece
e dos seus olhos, onde é sempre dia,
desprende-se uma luz que me deslumbra.
Ao caminhar, em seu redor parece
que o ar se faz de sol e maresia
sem a mais leve réstia de penumbra.
E como em desafio serpenteia
onde o mar vem deitar-se com a areia.