domingo, novembro 29, 2009

5 anos

Acrílico sobre tela / TL, 2009

Tudo começou assim, a 29 de Novembro de 2004:

As palavras sucumbem ao vazio
da própria pequenez.
Nenhum cais tem a forma do navio,
nenhum navio a forma das marés.

É tempo de continuar a resistir.

quinta-feira, novembro 26, 2009

O desejo

Acrílico sobre tela / TL, 2007

O desejo é um pássaro inquieto
que se lança no voo e não vê mais
coisa nenhuma além do seu objecto,
desprezando quaisquer outros sinais.
É também uma seta disparada
rumo a alvo concreto e definido
que, atravessando a noite e a cilada,
faz tudo em seu redor perder sentido.

segunda-feira, novembro 23, 2009

O seu olhar

Rua de Dom Pedro V / Foto TL, 2009

Não é só a deslumbrante
visão do rosto mais que perfeito
ou a surpresa de estar perante
a sedutora linha do seu peito.

É sobretudo a certeza
de uma outra beleza
de todo invulgar
que, estando além do que se vê,
desde logo se lê
no seu olhar.

quinta-feira, novembro 19, 2009

A não ser

Acrílico sobre tela / TL, 2009

Nada quero de ti a não ser esses
líquidos olhos com que me apareces
pela manhã como quem traz o dia.
Nada quero de ti a não ser essas
esguias mãos com que logo começas
a escrever-me na alma a poesia
dos nossos corpos tensos e unidos
pelos laços de todos os sentidos.
E porque não me basta ter o mundo
nada quero de ti a não ser tudo.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Alheamento

De outra janela / Foto TL, 2006

Saí à rua e não encontrei
ninguém meu conhecido:
ou me engano ou acordei
onde não tinha adormecido.
De qualquer modo, não sei
o que aconteceu comigo:
se da rua me alheei
ou foi ela que, por fim,
quis alhear-se de mim.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Os donos

Da minha janela / Foto TL, 2009

Usam e abusam do poder como se fosse
direito próprio que algum deus lhes trouxe,
num jogo absurdo que se joga à margem
de regras, normas, ordens e preceitos.
E, porque tudo é seu, eis que a paisagem
se amolda aos seus caprichos e defeitos
e as leis ganham contornos e alçapões
que os poupam a quaisquer complicações.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Por ora

Do Castelo de São Jorge / Foto TL, 2009

Por ora ainda é possível desenhar
as letras da palavra liberdade
e uma a uma afixá-las no lugar
mais alto e arejado da cidade.

Por ora ainda é possível agitar
uma bandeira, desfraldar um grito,
como quem se debruça sobre o mar
e olha da varanda o infinito.

Por ora ainda é possível perseguir
o dia que algum dia há-de chegar.
Por ora ainda é possível resistir.
Por ora ainda nos deixam respirar.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Paisagem

De S. Pedro de Alcântara / Foto TL, 2008

Apenas uma pálida imagem
do que se foi um dia ou julgou ser,
eis o que resta ao cabo da viagem
que nos cabe empreender.
Mas o que importa é a coragem
de olhar em volta e aceitar
que, sendo parte da paisagem,
com ela temos de mudar.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Espelho íntimo

Rua da Mãe-d'Água, ao Príncipe Real / Foto TL, 2009

Um espelho que devolva por inteiro
a imagem da alma, aquele lado
da vida que devia estar primeiro.
Um espelho luminoso e desenhado
à medida das íntimas certezas
que tanto se constroem das tristezas
como irrompem por entre as alegrias
a temperar de sal os nossos dias.

Um espelho posto à porta da entrada
da casa que inventámos para os dois,
fiel reflexo que não esconda nada
nem seja um mau agoiro para depois.