sexta-feira, setembro 28, 2007

Fora de horas







Foto TL

Nada pior que o rotineiro
correr dos dias iguais,
em que parece
que um íntimo nevoeiro
nos domina até não mais
e entorpece.

O melhor, ao acordar,
é não saber de agenda nem programa
e ficar na cama,
que é afinal o lugar
mais indicado a quem ama.

Depois, pela tarde fora
- visto que a manhã já era
e nem deu pela demora -,
importa tão-só a espera
do que a noite há-de trazer,
quando vier.

E quem disser o contrário
chegou fora do horário.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Fogo









Acrílico
sobre tela
TL, 2004
Vou moldar-te na ponta dos meus dedos
e sem angústias nem medos
matar a fome de ti.
Vou apagar o fogo que por dentro
me queima, teimoso e lento,
desde a primeira hora em que te vi.

Vou prender-te na teia de ternura
que sempre me vela os olhos
doidos à tua procura
quando escapas dos meus sonhos.

Vou dizer que te amo a toda a gente
e gravar o teu nome nas esquinas,
alheio de todo à má sina
que nos impede de ir em frente.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Vindima











Foto TL

Já se entreabre a porta do Outono
e pouco a pouco a tarde se acinzenta.
Já nos jardins o vento ao abandono
varre a folhagem sonolenta.

Já retoma a cidade o seu vestido
de sombras e nevoeiro.
Já pelos campos esmorece o cheiro
do Verão, intenso e colorido.

Resta-nos, entretanto, a alegria
do néctar que a vindima prenuncia.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Mergulho












Foto TL

Persegue o invisível, o que está
para além do que abarca o teu olhar.
O que fica na sombra do que há
por trás do que te é fácil observar.

Procura o indizível, o que não
se logra por palavras traduzir.
O que mora tão-só no coração
e a boca não consegue transmitir.

Deseja o impossível, o que habita
as altas nuvens ou reside apenas
no silêncio das coisas mais pequenas.

Não te conformes ao que te limita.
Rebenta as grades, voa, salta o muro,
rasga a bruma e mergulha no futuro.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Sorriso















Foto TL

Basta-me o seu sorriso.
Não preciso
de mais nada.
Basta-me, ao acordar,
a enseada
do seu olhar.

Basta-me o desafio
da sua boca,
mar acolhendo o rio
que me liberta quanto me sufoca.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Futuro









Acrílico sobre tela
TL, 2007

De nada me arrependo,
nem mesmo dos erros.
Com eles aprendo
a não cometê-los.

Do passado guardo
na memória apenas
as horas amenas.
Tudo o mais me é vago.

De resto, sei bem
o que é que procuro
e que nome tem.
Chama-se futuro.