domingo, maio 31, 2009

Terreiro do Paço*

Terreiro do Paço / Foto TL, 2009

Porque sou desde há muito de Lisboa
(umas vezes Cesário, outras Pessoa)
e é com ela que à noite me deito,
não posso conformar-me nem aceito
que certa gente
se obstine em desfeá-la e, não contente,
se gabe disso, como se a cidade
fosse um capricho da sua vontade.

Lisboa, mais que pedra, é sentimento
e é emoção, mais que lugar.
Causa por que nos cumpre revoltar,
há-de ser sempre pouco o empenhamento
que pusermos em a preservar.

*Se ama Lisboa, não deixe de assinar (eu já o fiz) a petição
por debate sobre o Terreiro do Paço:

http://www.gopetition.com/online/28118.html

quinta-feira, maio 28, 2009

Quando Maio...

Rua Dom Pedro V / Foto TL, 2009

Quando Maio se despede e as ruas de Lisboa
ainda se vestem de flores de jacarandá,
o ar exala um cheiro que já não há
em mais qualquer lugar e me atordoa.
É um aroma doce que embebeda
cedo pela manhã e não sossega
já noite dentro, até de madrugada.
Um odor que me parece querer dizer
que, enquanto ele durar, não tenho nada
que deva temer.

segunda-feira, maio 25, 2009

Moinhos de vento

Alto da Ajuda / Foto TL, 2009
Cada um inventa os moinhos de vento
que lhe cabe defrontar.
Os meus nem por um momento
me deixam sossegar.
É uma luta sem tréguas nem sinais
de iminente rendição
e o que me aflige mais
nos dias que virão
é que os moinhos que defronto a esmo
existem mesmo.

quinta-feira, maio 21, 2009

Para sempre

Coreto do Jardim da Estrela / Foto TL, 2009

Para sempre é muito cedo
e o amor,
que sobrevive ao crepúsculo do dia,
passa veloz a cortina do medo
e, vá por onde for,
torna-se eterno como a poesia.

Para sempre é meta pequena,
o amor precisa de mais,
porque só nele somos imortais
e o resto não vale a pena.

segunda-feira, maio 18, 2009

Espanto

Largo de Santos, com jacarandá / Foto TL, 2009

Vive ignorante da própria beleza
como se no olhar
não transportasse o verde-azul do mar
e em seu redor a natureza
não corasse de espanto ao ver passar
quem assim tem cabelos de luar.

E porque a sua fala é um violino
ecoando na lonjura
entreguei-lhe o meu destino
e morro aos poucos de ternura.

quarta-feira, maio 13, 2009

Buganvília

Rua de O Século / Foto TL, 2009
Buganvília, indiscreta trepadeira,
que sabes tudo sobre o meu amor,
vai dizer-lhe que à hora do sol-pôr
hás-de levar-me até à sua beira.

Diz-lhe que não achei melhor maneira
de lá chegar e, seja como for,
a noite que virá, ó trepadeira,
é minha e tua e do meu amor.

segunda-feira, maio 11, 2009

Espuma

Armação de Pêra / Foto TL, 2007

Foi tão efémero que não
durou mais que umas férias de Verão
esse amor que, no entanto,
gravaste para sempre na memória
como se, por encanto,
marcasse a tua história.

Era no tempo sem enredo
em que não tinhas medo
de coisa nenhuma,
mas tão-pouco sabias o segredo
de empurrar a bruma.

Não raro o amor que chega cedo
dá à praia feito espuma.

quinta-feira, maio 07, 2009

Tempo de papoilas

Foto TL, 2009

Decerto não reparas, mas agora
é tempo de papoilas, é a hora
em que até mesmo as pedras da calçada
de repente dão flor.
É quando a noite cede à madrugada
e os frutos ao calor.

Decerto não reparas, porque habitas
numa selva onde as árvores, aflitas,
morrem uma após outra de secura.
Um labirinto de solidão
erguido à força de aço e de betão,
que aboliu a ternura.

terça-feira, maio 05, 2009

Espelho















Jardim de Santo Amaro Foto TL, 2009
Como quem, debruçado sobre o espelho
do lago, que uma leve brisa agita,
de súbito descobre que está velho
e, por mais que se mire, não acredita
no olhar que do outro lado o fita,
assim me achei perante ti, ao fim
de tanto tempo sem curar de mim.

sexta-feira, maio 01, 2009

Maio lisboeta

Avenida Dom Carlos I /Foto TL, 2008
No mês de Maio, quando as flores
de jacarandá voltam à cena,
Lisboa não sossega nem serena
e troca a sua saia de mil cores
pelo azul-violeta e os odores
mais suaves que encontrou
nos longes por onde andou.

E o luminoso mês,
carregado de sol e de esperança,
entra, por sua vez,
também na dança.