segunda-feira, setembro 29, 2008

Só tu















Cais das Colunas/Foto TL, Set. 2008

Só tu sabes os segredos
mais íntimos de mim
e conheces os medos,
mistérios e enredos
que do princípio ao fim
me percorrem os dias.

Mas também as alegrias
que partilho contigo
todas, uma por uma,
sem que subsista o perigo
de te esconder alguma.

Só tu sabes como sou,
embora imperfeito,
alguém que se moldou
à curva do teu peito.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Sabes bem


















Alfama
Foto TL, 2008

Sabes bem que estarei sempre contigo
nas horas de alegria ou de aflição
e todas as palavras que te digo
saem do fundo do meu coração.

E que, por mais que tente, não consigo
imaginar os dias em que não
teremos um no outro o ombro amigo
com que resistimos à solidão.

Sabes isso e ainda sabes mais
esta dor de não sermos imortais.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Contra o Outono












Foto TL, 2007
Partiram no Outono e nunca mais voltaram
nem vão voltar
os que amei e me deixaram
esta dor que me há-de acompanhar
até o Outono me vir também buscar.

Não me falem, portanto, do Outono
nem das folhas caídas pelo chão,
triste imagem do abandono
que à noite me rouba o sono
e agrava a solidão.

Quero antes, para sempre, o Verão.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Carpe diem


















Cais do Sodré
Foto TL, 2008

Dissipamos os dias, na ilusão
de que outros dias virão
mais propícios e cheios de luz e cor,
mas não raro o que nos dão
os dias por haver é solidão
e desamor.

Goza, portanto, o dia
de hoje na maior alegria,
como se não te restasse mais nenhum,
e talvez por fantasia
a madrugada fugidia
te traga mais um.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Cais















Foto TL, 2008
A sós, no cais, olhando o barco que partia,
não era de ti que me despedia,
mas de mim, que nessa hora
sem acenos me fui embora.

Descobridor de mares que nem sequer sabia
que nome tinham, se era noite ou dia,
por longo tempo naveguei
até que, por fim, voltei.

Mas do cais da largada não restava já
lembrança alguma e muito menos há
muralha onde acostar.
E, sendo tudo em volta mar e mar,
não me resta senão continuar.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Livre













Rio Tejo. Foto TL, 2008

O poeta não é bicho-de-conta,
que se enrola para não ver
o que acontece em volta.
Nem é barata tonta,
que apenas quer
que a deixem à solta.

O poeta é um falcão
que tudo em seu redor
abraça com o olhar.
Companheiro da solidão,
sempre, por onde for,
está livre para amar.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Marcas e sinais





















Pormenor de fachada, Rua do Monte Olivete, Lisboa. Foto TL, 2008
O amor é forte e desconhece
a erosão do tempo
e a paixão tão volátil que parece
esvair-se ao menor sopro de vento.

O amor é um navio de longa rota
que tanto sulca as mais serenas
marés como as ondas mais revoltas
e a paixão tem motor fora de borda
e navega apenas
à bolina junto à costa.

O amor não se esfuma, o amor demora
e a paixão, que quer sempre mais e mais,
à mais mesquinha aragem se evapora.
Mas ambos deixam marcas e sinais.

quinta-feira, setembro 04, 2008

De caras
















Alfama /Foto TL, 2008

Não tenhas pressa de chegar a nenhum lado
mas também não fiques parado
à espera de que venham ter contigo
e te digam o que fazer.
O que importa na vida é enfrentar o perigo
e pegar de caras o inimigo
sem medo do que vier.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Quem nunca amou













Acrílico
sobre tela
TL, 2008

Quem nunca amou não sabe o que é viver,
conhece apenas a espuma da vida.
Amar é navegar além da costa
e ousar o mar largo e profundo.
Amar é ir longe, aventurar-se às ondas
e deixar que a todo o pano
o vento arraste o veleiro
para lá do horizonte conhecido.
Amar é mergulhar, beber a luz
do universo de algas e corais
donde emerge o ser amado.
Quem nunca amou nunca viveu.