segunda-feira, março 25, 2013

Meu querido PAI,

Às 4.40 h do dia 24 de Março de 2013, o teu coração deixou de bater.
Foi uma luta heróica e silenciosa pela vida.
É uma honra, um orgulho e um consolo imensos ser tua filha e sei que, desde o Céu, continuarás outro Ofício Diário e olharás por nós, com o amor e a delicadeza com que o fazias quotidianamente.
Amo-te eternamente!
A tua filha Maria João.

A todos os que queiram prestar uma última homenagem ao meu Pai:

Velório, hoje dia 25 de Março, na Igreja do Campo Grande, a partir das 17.00 h com missa às 19.30 h.
Enterro amanhã, dia 26 de Março, em Alcantarilha (Algarve), às 11.00h.

PRESENÇA
 
Já não estás onde estavas, já não estás
onde sempre te vi.
Mas, olhando o lugar, sinto-te aí
e recupero a paz.
 
O que conta não é o que se sabe,
tão-pouco o  que se vê.
O que conta é aquilo que não cabe
dentro dos olhos, mas se crê.

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Sem drama

Rossio
Poucas pessoas gostam de poesia,
embora a maioria,
como é sabido, diga que sim.
É que a  poesia, erva ruim,
cresce sem pedir licença
e não precisa de jardim
para marcar presença.

Vicejando em qualquer lado,
há quem a ponha na lapela
para o encontro aprazado.
Outros mostam-na à janela
no lugar do cortinado.

Mas, sem que nisso haja drama,
raros são decerto aqueles
que a fazem dormir com eles
noite após noite na cama.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Se fosse uma cidade

Terreiro do Paço
Se fosse um bicho, havia de ser gato,
jamais um réptil, tão-pouco uma ave.
Teria um pêlo dócil e suave
e o olhar ideal para um retrato.

Se fosse arbusto, é certo que seria
uma frágil sardinheira,
mas nunca a urze rasteira
ou a silva bravia.

Se fosse uma cidade, era Lisboa,
com esta luz que me atordoa.

sábado, fevereiro 02, 2013

O que importa

   Uma rua no Castelo
Nem balanço nem contas. Nada disso.
Importa é recusar o compromisso
do permanente deve & haver.
Importa é ter insubmisso
a todo o tempo o coração.
Importa é não ceder
e saber dizer não
a quem, por qualquer razão
que supõe ter,
não pretende senão
fazer-nos obedecer.
Importa é que a rebeldia
nos seja pão de cada dia.

domingo, janeiro 27, 2013

Crédito

Acrílico sobre tela
No deve & haver da existência,
por mais longa que seja a caminhada,
sempre terei a crédito a adolescência
que um dia me foi roubada.

segunda-feira, janeiro 21, 2013

Contra a rotina

Cais do Sodré
Nada pior que o rotineiro
correr dos dias iguais,
em que parece
que um íntimo nevoeiro
nos domina até não mais
e entorpece.

O melhor, ao acordar,
é não saber de agenda nem programa
e ficar na cama,
que é afinal o lugar
mais indicado a quem ama.

Depois, pela tarde fora,
visto que a manhã já era
e nem deu pela demora,
importa tão-só a espera
do que a noite há-de trazer,
quando vier.

E quem disser o contrário
chegou fora do horário.

segunda-feira, janeiro 14, 2013

Sem regresso

Rua da Prata
Tomou na vida o autocarro errado
e em vez de sair na primeira paragem
continuou a viagem
para nenhum lado.

Perdeu-se do passado que não teve
e do futuro que não tem,
mero episódio de novela breve
que não acaba bem.

E um fumo pesado e espesso
diz-lhe que não há regresso.

terça-feira, janeiro 08, 2013

Sempre tu

Tejo meu
Mil vezes te achei e outras mil te perdi
para te achar de novo.
De cada vez que nos deixamos
recomeça a busca
por quem tome o teu lugar.
No entanto és sempre tu que voltas
e me embebedas dessa quietude
como não há mais.

quarta-feira, janeiro 02, 2013

De volta

Díptico / Acrílico sobre tela
Chamam-lhe novo, mas não interessa
o que lhe chamam, quando é certo
que cada ano diz somente a pressa
de pôr a descoberto
que nada recomeça.

Se, inevitável, o dia
de amanhã será igual ao de hoje,
qualquer coisa nos foge
ou é excesso de poesia.

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Boas festas...

...e feliz 2013 para todos os amigos,
leitores e comentadores, habituais ou ocasionais,
do "Ofício Diário".
Até para o ano!

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Destino

Acrílico sobre tela
Seria bom que a vida
fizesse algum sentido
e não fosse esta corrida
rumo ao desconhecido.
A gente nasce e morre sem saber
o que veio cá fazer,
mas não devia ser assim.
Devia haver um programa
com princípio e fim
em que, sem qualquer drama
ou frenesim,
cada um, como num mapa,
lesse o destino que lhe escapa.

terça-feira, dezembro 11, 2012

Embaraço

Jardim da Estrela
Olhas-me entre a surpresa e o desencanto
e eu fico embaraçado ante esse olhar.
Nada podia perturbar-me tanto
como uns olhos roubados ao luar
das noites em que o tempo e o lugar
se faziam de espuma, luz e espanto.
Mas o que importa, sobre a ruinosa
erosão dos desenganos,
é esta força de quem ousa
amar-te acima do passar dos anos.

terça-feira, dezembro 04, 2012

Praias por haver

Acrílico sobre tela
Nem todos os barcos voltam à praia,
há sempre um ou outro que o mar envolve
na sua teia de algas e corais.
Sei de alguns que, uma vez partidos
com seus audazes marinheiros,
jamais regressaram.
Embora os jornais falem de naufrágios,
a verdade é que, cioso, o mar os guarda
para, intactos, um dia os devolver
a praias por haver.

quinta-feira, novembro 29, 2012

Oito anos

Praça das Flores

O "Ofício Diário" nasceu a 29 de Novembro de 2004, com este pequeno texto intitulado "As palavras" e extraído do meu livrinho "Lucro Lírico", de 1973:

As palavras sucumbem ao vazio
da própria pequenez.
Nenhum cais tem a forma do navio,
nenhum navio a forma das marés.

Faz hoje, portanto, oito anos.
Após a paragem que, por motivo de força maior, presentemente conhece, há-de recomeçar em breve. Assim confio.

quarta-feira, outubro 31, 2012

Fogueira

Cais da Ribeira
Corpo que rasga a noite e vai deixando
atrás de si a luz da madrugada,
assim te desenhei em sonhos, quando
além dos sonhos não havia nada.

Fogueira que recusa o lume brando
das convenções e afronta a encruzilhada
dos dias, tal um anjo iluminando
tudo em redor ao brilho de uma espada,

eis como te quis ver, antes que fosses
um rosto e sobretudo um coração,
uns olhos claros e uns lábios doces

e eu me perdesse em ti como se não
houvesse mundo além do que te trouxe
à minha inebriante perdição.