sexta-feira, outubro 28, 2005

Futuro

Deixa-me ouvir o coração que bate
ao ritmo da ternura.

Sei que transportas as marés
dos oceanos que nos precederam:
a ansiedade, a dúvida, essa forma
genuína de entender a vida.

Mas igualmente a esperança no futuro,
o mistério que está além dos muros.

(2005)

segunda-feira, outubro 24, 2005

Serenidade

Pela luz que derramam os teus olhos.
Pelo desenho musical da tua voz.
Pela brisa que sopra quando passas.

Pelo brilho do teu rosto.
Pelos cabelos que penteias
com um pente oferecido pelos deuses.

Pela serenidade que me trazes,
quando chegas.

Pela serenidade que me deixas,
quando partes.

(2005)

quarta-feira, outubro 19, 2005

Dores e amores

Nenhuma dor é passageira, todas doem
para o resto da vida.
Perseguem-nos nas horas inquietas,
quais fantasmas secretos e sombrios.

Também os amores deixam um rastro imperecível.
Por mais que tentemos arrumá-los
em qualquer canto da memória,
regressam sempre.

Mas são as dores e os amores
que nos seguram ao correr dos dias.

(2005)

sábado, outubro 15, 2005

Por ti

Por onde quer que vás seguirei os teus passos,
não te quero perder, não me quero perder.
És a luz que ilumina os meus olhos já baços,
minha razão de viver.

Para onde quer que vás estarei à tua espera,
não te posso perder, não me posso perder.
Por ti regresso sempre às praias que esquecera,
minha recusa a morrer.

(2005)

quarta-feira, outubro 12, 2005

Pop'lar

Entre a alheira
de Mirandela
e a jardineira
de vitela,
son coeur balança.

Entretanto, enche a pança
de sandes de mortadela.

Qualquer dia, sem dar por ela,
salta-lhe a tampa da panela.

(2005)

domingo, outubro 09, 2005

O medo

Que não te domine o medo,
esse constante companheiro.

O medo do escuro
e o medo da dor.

O medo de amanhã
ou da hora seguinte.

O medo de partir
e o medo de chegar.

O medo de algo
que quebre a rotina.

O medo do silêncio
e o medo do ruído.

O medo da solidão
e o das multidões.

O medo do diferente
e também do igual.

O medo de viver
e o medo da morte.

O medo de tudo,
que afinal é nada.

(2005)

terça-feira, outubro 04, 2005

Agosto

Não me interessa saber donde vieste,
de que planeta ou que país distante,
se te trouxe o suão ou o vento leste
dos lados do ocidente ou do levante.

Não me interessa a origem do teu nome
nem se tem nome a terra onde nasceste.
Tão-pouco me seduz ou me consome
conhecer os caminhos que correste.

Quero-te sem passado e compromisso,
de corpo inteiro e alma preparada
para a festa da minha madrugada.

E quero mais, ainda mais do que isso:
roubar o sol que te ilumina o rosto
para ter todo o ano o mês de Agosto.

(2005)