Excertos da apresentação, feita por Inês Ramos:
"(...) Só ficará de ti o que escreveste
com paixão.
O resto não contou:
foi tão-só uma sombra que passou,
pura ilusão,
e nem rasto deixou.
Assim começa este livro de Torquato da Luz, para que, com ele, façamos uma viagem através dos afectos e até um lugar onde apetece ficar por muito tempo e aí serenamente tentar entender a vida e todas as suas ousadias e todos os extremos que à distância nos revelam o que aprendemos sobre o amor até encontrar no silêncio o seu encantamento.
Tal como diz o poeta, "só ficará de ti o que escreveste com paixão" e este livro, escrito com paixão, é uma obra de recriação e releitura, de desafio às nossas perguntas sobre a nossa própria forma de estar perante o amor, as emoções e a memória. Porque o que não foi feito com paixão, o que não foi escrito com paixão, nem rasto deixou.
Eis uma definição do que pode ser o amor:
(...) Nada podia perturbar-me tanto
como uns olhos roubados ao luar
das noites em que o tempo e o lugar
se faziam de espuma, luz e espanto.
Mas o que importa, sobre a ruinosa
erosão dos desenganos,
é esta força de quem ousa
amar-te acima do passar dos anos.
O tempo é um elemento presente na poesia de Torquato da Luz. Numa abordagem para o amor construído e para a serenidade da vida que é o grande privilégio que temos e onde inscrevemos a nossa marca tão única. Sobretudo naquilo que amamos. E este poeta enlaça-nos entre o passado e o presente, sem que se trate de passado nem presente, apenas o tempo numa concepção diferente. Numa memória do espaço e do tempo revisitados e reinventados.
Este livro é para ler lentamente, para deixarmos que as palavras nos entrem na pele. Como estas:
(...) Quando chegas, só me ocorre esquecer tudo
e ter-te uma vez mais como quem tem o mundo.
(...)
Poesia rica e lírica. Alma que respira luz. Palavras directas e sábias. Poemas férteis sobre a vida às vezes tão áspera, mas cantando o amor, e as seivas das suas ramagens. Poesia escrita como um ofício diário: sentimental, romântico, mas testemunho lúcido de resistência. E assim vale a pena escrever sobre o amor:
Alheado de mim e de quem era,
busquei-te em vão na solidão dos bares,
para saber que o dia em que chegares
há-de ser um domingo e primavera (...).
(...)
Na poesia, não basta qualidade, é preciso que seja também inventiva, senão não é arte, é burocracia. O conceito de invenção na poesia não foi criado pelas vanguardas nem pela poesia concreta. Invenção em poesia é tudo desde Homero. A poesia moderna é uma invenção da crítica. E a poesia não serve para nada se apenas for uma espécie de snobismo cultural. A poesia deve chegar ás pessoas (...). A poesia de Torquato da Luz é límpida, directa e intemporal. É um poeta com uma escrita madura e cuidada que usa com mestria a subjectividade da metáfora, a adjectivação, a rima e a métrica necessária nos sonetos. Mas é sobretudo um poeta que sabe construir poemas fortes com uma extrema sensibilidade e um profundo sentido estético. Que nos entra na pele.
É um poeta que escreve por uma necessidade interior, com um ritmo muito pessoal, num encontro de palavras extraídas da alma, nunca criando uma barreira para o leitor, mas ensinando o leitor a imaginar o que está nos intervalos (...)".