quarta-feira, maio 31, 2006
segunda-feira, maio 29, 2006
Medo
Acrílico sobre tela/Torquato da Luz, 2004
Medo de te amar de mais,
quando demais não é suficiente.
Medo de não saber por onde vais,
quando te sei ausente.
Medo de ficar só entre os demais,
quando se torna evidente
a abundância de sinais
de que não estás presente.
Medo de te amar de mais,
porque demais não é suficiente.
(2006)
sexta-feira, maio 26, 2006
quarta-feira, maio 24, 2006
Jacarandás de Lisboa
Para Manuela Ramos, do "Dias com Árvores"
Com os jacarandás em flor,
Lisboa, amante e amiga,
é outra vez a grácil rapariga
que soma sonhos de amor.
Por toda a cidade, a cor
azul-violácea esconde a dama antiga
que saíu a passeio - e não se diga
que lhe falta esplendor.
Eterna enquanto dura,
como diz o poeta sobre o amor,
Lisboa veste sol e formosura.
(2006)
Com os jacarandás em flor,
Lisboa, amante e amiga,
é outra vez a grácil rapariga
que soma sonhos de amor.
Por toda a cidade, a cor
azul-violácea esconde a dama antiga
que saíu a passeio - e não se diga
que lhe falta esplendor.
Eterna enquanto dura,
como diz o poeta sobre o amor,
Lisboa veste sol e formosura.
(2006)
segunda-feira, maio 22, 2006
Bastava
Acrílico sobre tela/Torquato da Luz, 2005
Bastava que dissesses a palavra exacta,
que tens aprisionada na garganta.
Bastava que pendurasses
na porta do teu quarto um lenço branco.
Bastava que enfeitasses o chapéu
com as flores que o fim da tarde
põe sedentas da luz dos teus cabelos.
Bastava que me olhasses uma vez ainda.
(2006)
quinta-feira, maio 18, 2006
Espera
Quase trinta anos depois, ainda estou à tua espera
no átrio do hotel onde combinámos encontro,
ó visão esplendorosa como não tivera outra.
Estou certo de que hás-de vir
e, sem pedir desculpa pelo atraso,
contarás uma história qualquer sobre os transportes,
que nunca andam a horas, como é sabido.
Continuaremos então a conversa
que deixámos a meio no avião,
quando o acaso nos pôs lado a lado
por duas ou três horas,
que contigo não passaram de breves minutos.
Talvez chegues de noite ou pela madrugada,
não interessa o momento, haverá sempre
a imensa claridade azul do teu olhar.
E nada mais de mim há-de ficar
do que a lembrança de te ter amado.
(2006)
segunda-feira, maio 15, 2006
quinta-feira, maio 11, 2006
Cactos
Há certos cactos que florescem
quando menos se espera.
Sei isso de ciência certa,
porque os tenho na minha varanda lisboeta
e os trato com o amor desprendido
de quem os plantou sem mira de recompensa.
A verdade é que nem todos
se limitam ao caule esférico ou anguloso
e às folhas cobertas de espinhos.
Alguns procuram ser gratos,
o que até rima com eles,
e oferecem-me flores.
Não acontece todos os anos
pela Primavera,
mas vá lá a gente entender os cactos.
(2006)
segunda-feira, maio 08, 2006
Força
Podemos sempre mais do que promete
a nossa fragilidade.
Cada um transporta a memória
da irrefreável juventude.
Todos os dias são de combate,
todos os dias se morre e se renasce
para combater de novo.
E nem curamos de saber
donde nos vem a força
que segura a espada.
(2006)
a nossa fragilidade.
Cada um transporta a memória
da irrefreável juventude.
Todos os dias são de combate,
todos os dias se morre e se renasce
para combater de novo.
E nem curamos de saber
donde nos vem a força
que segura a espada.
(2006)
quarta-feira, maio 03, 2006
Paisagem
Só me interessam as coisas de que gosto,
o resto não existe, o resto é nada.
Só me interessa a paisagem do teu rosto
à luz da madrugada.
Não curo de saber se a terra roda
em volta de si mesma ou está parada.
Tão-pouco me incomoda
saber que não há estrada
para além da que tenho imaginada.
Só me interessa esta fúria com que tento
que sejamos um só quando te invento.
(2006)
o resto não existe, o resto é nada.
Só me interessa a paisagem do teu rosto
à luz da madrugada.
Não curo de saber se a terra roda
em volta de si mesma ou está parada.
Tão-pouco me incomoda
saber que não há estrada
para além da que tenho imaginada.
Só me interessa esta fúria com que tento
que sejamos um só quando te invento.
(2006)