segunda-feira, novembro 29, 2010
quinta-feira, novembro 25, 2010
O corpo da cidade
Travessa das Inglesinhas, à Madragoa
Tacteamos o corpo da cidade
que elegemos um dia para amante
e nele damos largas à vontade
de a possuir, mas nada nos garante
que fique nossa para a eternidade.
Porque a cidade é uma musa esquiva
e nós, por mais sincera a tentativa
de a prendermos com beijos e abraços,
não passamos de barcos à deriva
num mar feito de lios e sargaços.
Tacteamos o corpo da cidade
que elegemos um dia para amante
e nele damos largas à vontade
de a possuir, mas nada nos garante
que fique nossa para a eternidade.
Porque a cidade é uma musa esquiva
e nós, por mais sincera a tentativa
de a prendermos com beijos e abraços,
não passamos de barcos à deriva
num mar feito de lios e sargaços.
segunda-feira, novembro 22, 2010
Pouco sabemos
Rua do Monte Olivete
Pouco sabemos das nossas mesquinhas vidas
e mesmo o que sabemos fica sempre aquém
do que julgamos saber
porque há paisagens que nos foram proibidas
desde o início, como se entre mal e bem
se pudesse estabelecer
um muro, uma barreira natural e exacta
e inscrever por baixo o nosso nome e a data.
O mais que conseguimos é marcar no vento
a dor das coisas que deixamos no caminho
e nem ousamos olhar
como se nada contasse além do momento
em que se come o pão e bebe o fácil vinho
e não houvesse lugar
para um ponto de exame, um tempo de paragem
a meio desta estranha e brevíssima viagem.
Pouco sabemos das nossas mesquinhas vidas
e mesmo o que sabemos fica sempre aquém
do que julgamos saber
porque há paisagens que nos foram proibidas
desde o início, como se entre mal e bem
se pudesse estabelecer
um muro, uma barreira natural e exacta
e inscrever por baixo o nosso nome e a data.
O mais que conseguimos é marcar no vento
a dor das coisas que deixamos no caminho
e nem ousamos olhar
como se nada contasse além do momento
em que se come o pão e bebe o fácil vinho
e não houvesse lugar
para um ponto de exame, um tempo de paragem
a meio desta estranha e brevíssima viagem.
quinta-feira, novembro 18, 2010
segunda-feira, novembro 15, 2010
A cidade
Largo do Marquês do Lavradio, às Cruzes da Sé
A cidade passeia no rosto de um homem,
põe seu corpo nu a tocar-lhe a pele,
desenha-lhe um rio, mas os barcos não correm
na água que nasce do silêncio dele.
Um homem estrangula o frio da cidade,
seu corpo a possui, seu corpo incendeia,
vai calado e só, numa fúria que há-de
espraiar-se por fim no oiro da areia.
Cidade de portas abertas ao medo,
um homem percorre o seu corpo e pergunta
como o tempo achou lugar para ter
tanto tempo muda tanta gente junta.
põe seu corpo nu a tocar-lhe a pele,
desenha-lhe um rio, mas os barcos não correm
na água que nasce do silêncio dele.
Um homem estrangula o frio da cidade,
seu corpo a possui, seu corpo incendeia,
vai calado e só, numa fúria que há-de
espraiar-se por fim no oiro da areia.
Cidade de portas abertas ao medo,
um homem percorre o seu corpo e pergunta
como o tempo achou lugar para ter
tanto tempo muda tanta gente junta.
("Voz Suspensa", 1970, rev.)
quinta-feira, novembro 11, 2010
Nenhum dia
Entardecer lisboeta
Nenhum dia é cinzento quando a tua
voz me desperta e saio para a rua
cheio de sol e música na alma
e tudo em volta se ilumina e canta
como se desprendesse da garganta
uma canção vibrante, porém calma.
Nenhum dia é monótono a teu lado
porque o tempo contigo se evapora,
de ti serenamente enamorado,
e não dura um minuto cada hora.
voz me desperta e saio para a rua
cheio de sol e música na alma
e tudo em volta se ilumina e canta
como se desprendesse da garganta
uma canção vibrante, porém calma.
Nenhum dia é monótono a teu lado
porque o tempo contigo se evapora,
de ti serenamente enamorado,
e não dura um minuto cada hora.
segunda-feira, novembro 08, 2010
Um muro
Rua do Norte, Bairro Alto
Um muro e outro muro
só a palavra alada os esvoaça,
ave da noite que defronta o escuro
e deixa o dia onde passa.
Mas onde achá-la, em que praia
desvendar a beleza do seu corpo,
onde encontrar quem saiba
das paisagens que há dentro do seu rosto?
Se todos os silêncios são nocturnos,
a memória gelada que a procura
é um comboio de bruma
sitiada nos vóltios da ternura.
só a palavra alada os esvoaça,
ave da noite que defronta o escuro
e deixa o dia onde passa.
Mas onde achá-la, em que praia
desvendar a beleza do seu corpo,
onde encontrar quem saiba
das paisagens que há dentro do seu rosto?
Se todos os silêncios são nocturnos,
a memória gelada que a procura
é um comboio de bruma
sitiada nos vóltios da ternura.
("Lucro Lírico", 1973, rev.)
quinta-feira, novembro 04, 2010
segunda-feira, novembro 01, 2010
O que está primeiro
O gladíolo na varanda renasce. Veremos...
Tudo fica mais fácil quando se ama
porque amar é sobrevoar
e lá do alto ver o rasteiro
dia-a-dia que nos chama
e abaixo finge ignorar
que o amor está primeiro.
Tudo fica mais leve quando se ama
porque amar é atravessar
o mar largo e traiçoeiro
da vida que nos reclama
para a urgência de gritar
que o amor está primeiro.
porque amar é sobrevoar
e lá do alto ver o rasteiro
dia-a-dia que nos chama
e abaixo finge ignorar
que o amor está primeiro.
Tudo fica mais leve quando se ama
porque amar é atravessar
o mar largo e traiçoeiro
da vida que nos reclama
para a urgência de gritar
que o amor está primeiro.